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Proponho o seguinte exercício: pensar naquilo que éramos e tínhamos há cinco anos atrás.
Aposto que muita gente vai perceber o mesmo que eu quando decidi fazer tal exercício de memória. A questão é mesmo essa, é que não se trata apenas de um exercício de memória. Trata-se quase de um ato de auto motivação. De percebermos que, mesmo com todas contrariedades com que nos deparamos, mesmo com dificuldades, a vida sempre nos surpreende, e por vezes ainda consegue ser generosa.
Se hoje te cruzasses com aquele ou aquela que eras há pelo menos cinco anos atrás, o que lhe dirias?! Eu, muito provavelmente, não diria grande coisa. Por dois motivos: primeiro, porque certamente iria ignorar tudo o que ia ouvir. Segundo, porque não iria ser capaz de estragar a surpresa.
Tudo o que somos é fruto de uma aprendizagem, essencialmente adquirida pela experiência. Se porventura eu tentasse substituir qualquer dessa experiência por meras palavras, conselhos ou avisos, acredito que o efeito seria quase nulo. O mais provável seria eu fazer praticamente o mesmo.
Há meia dezena de anos, certamente o tempo de cada um de nós era preenchido de outra forma. Fazíamos outras coisas, frequentávamos outros lugares, conhecíamos outras pessoas. Embora possa haver sempre uma ou outra resistente na nossa vida, a grande maioria das pessoas são circunstanciais. Não é vergonha admiti-lo, até porque se assim não fosse, não daríamos tanto valor às pessoas que permanecem e a palavra ‘amigo’ perderia o significado.
Cinco anos podem servir para mudar imensas coisas. No meu caso posso dizer que serviu essencialmente para encontrar a minha liberdade. Perceber quem somos e que devemos fazer as nossas escolhas em função disso é das coisas mais importantes e mais difíceis que alguma vez me atrevi a fazer. Tanto que é um processo contínuo e interminável, e por isso mesmo tão fascinante.
Percebi que a minha liberdade vai muito além daquilo que eu posso fazer (mas não faço). Liberdade é sentir que posso fazer algo que poderá fazer-me bem (e eventualmente a outros), criar a oportunidade e efetivamente fazê-lo. E eu percebi isto a vários níveis. Desde o fazer algo completamente novo, acordar um dia a sonhar ir a outro país. Desde o querer ultrapassar os próprios limites, descer uma ponte presa por uma corda de rappel. Até perceber que, mais importante do que dizer a alguém o que penso ou sinto, é perceber de onde vem tudo isso. Sentimentos e pensamentos soltos podem fazer mais mal do que bem e só fazem sentido quando alinhados com aquilo de que somos feitos.
Neste tempo, a coisa mais dura de aprender foi aprender a largar, a deixar partir muitas vezes quem tão importante foi para nós. Perceber que tudo tem o seu tempo. Foi bom ter-me libertado de algumas pessoas, de algumas relações que já não tinham muito para dar, não querendo com isto parecer ingrata. Da mesma forma que é bom identificarmo-nos com alguém e passa a fazer sentido partilhar caminho, também acontece por vezes deixar de fazer sentido partilhá-lo quando duas pessoas precisam percorrer caminhos diferentes.
Foi bom ter deixado ir certas pessoas, não só porque essas pessoas souberam seguir em frente, e se eu ficasse agarrada ao que algum dia fomos, não me estaria a dar o direito de fazer o mesmo. Todos nós temos o direito de seguir em frente, de evoluir e crescer, e não há mal nenhum nisso.
É por isso que existem amores para toda a vida e amores de verão, amizades infância, amizades de escola e amizades de autocarro. Porque existem pessoas que ficam e pessoas que precisam de partir.
Tudo está em permanente mudança. Às vezes o nosso olho não foca é da distância correta para perceber isso. Há cinco anos atrás, ainda era uma miúda a estudar, andava de autocarro, vivia com os meus pais, tinha os meus namoricos, os meus amigos eram como eu e mal eu imaginava no que me ia tornar até ao dia de hoje. O bom de tudo isto é que o tempo não pára, e daqui a mais cinco anos talvez esteja a escrever mais uma página como esta…
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