(fonte: https://fbcdn-sphotos-e-a.akamaihd.net/hphotos-ak-ash3/76856_350922915002111_718525088_n.jpg)
Proponho o seguinte exercício: pensar naquilo que éramos e tínhamos há cinco anos atrás.
Aposto que muita gente vai perceber o mesmo que eu quando decidi fazer tal exercício de memória. A questão é mesmo essa, é que não se trata apenas de um exercício de memória. Trata-se quase de um ato de auto motivação. De percebermos que, mesmo com todas contrariedades com que nos deparamos, mesmo com dificuldades, a vida sempre nos surpreende, e por vezes ainda consegue ser generosa.
Se hoje te cruzasses com aquele ou aquela que eras há pelo menos cinco anos atrás, o que lhe dirias?! Eu, muito provavelmente, não diria grande coisa. Por dois motivos: primeiro, porque certamente iria ignorar tudo o que ia ouvir. Segundo, porque não iria ser capaz de estragar a surpresa.
Tudo o que somos é fruto de uma aprendizagem, essencialmente adquirida pela experiência. Se porventura eu tentasse substituir qualquer dessa experiência por meras palavras, conselhos ou avisos, acredito que o efeito seria quase nulo. O mais provável seria eu fazer praticamente o mesmo.
Há meia dezena de anos, certamente o tempo de cada um de nós era preenchido de outra forma. Fazíamos outras coisas, frequentávamos outros lugares, conhecíamos outras pessoas. Embora possa haver sempre uma ou outra resistente na nossa vida, a grande maioria das pessoas são circunstanciais. Não é vergonha admiti-lo, até porque se assim não fosse, não daríamos tanto valor às pessoas que permanecem e a palavra ‘amigo’ perderia o significado.
Cinco anos podem servir para mudar imensas coisas. No meu caso posso dizer que serviu essencialmente para encontrar a minha liberdade. Perceber quem somos e que devemos fazer as nossas escolhas em função disso é das coisas mais importantes e mais difíceis que alguma vez me atrevi a fazer. Tanto que é um processo contínuo e interminável, e por isso mesmo tão fascinante.
Percebi que a minha liberdade vai muito além daquilo que eu posso fazer (mas não faço). Liberdade é sentir que posso fazer algo que poderá fazer-me bem (e eventualmente a outros), criar a oportunidade e efetivamente fazê-lo. E eu percebi isto a vários níveis. Desde o fazer algo completamente novo, acordar um dia a sonhar ir a outro país. Desde o querer ultrapassar os próprios limites, descer uma ponte presa por uma corda de rappel. Até perceber que, mais importante do que dizer a alguém o que penso ou sinto, é perceber de onde vem tudo isso. Sentimentos e pensamentos soltos podem fazer mais mal do que bem e só fazem sentido quando alinhados com aquilo de que somos feitos.
Neste tempo, a coisa mais dura de aprender foi aprender a largar, a deixar partir muitas vezes quem tão importante foi para nós. Perceber que tudo tem o seu tempo. Foi bom ter-me libertado de algumas pessoas, de algumas relações que já não tinham muito para dar, não querendo com isto parecer ingrata. Da mesma forma que é bom identificarmo-nos com alguém e passa a fazer sentido partilhar caminho, também acontece por vezes deixar de fazer sentido partilhá-lo quando duas pessoas precisam percorrer caminhos diferentes.
Foi bom ter deixado ir certas pessoas, não só porque essas pessoas souberam seguir em frente, e se eu ficasse agarrada ao que algum dia fomos, não me estaria a dar o direito de fazer o mesmo. Todos nós temos o direito de seguir em frente, de evoluir e crescer, e não há mal nenhum nisso.
É por isso que existem amores para toda a vida e amores de verão, amizades infância, amizades de escola e amizades de autocarro. Porque existem pessoas que ficam e pessoas que precisam de partir.
Tudo está em permanente mudança. Às vezes o nosso olho não foca é da distância correta para perceber isso. Há cinco anos atrás, ainda era uma miúda a estudar, andava de autocarro, vivia com os meus pais, tinha os meus namoricos, os meus amigos eram como eu e mal eu imaginava no que me ia tornar até ao dia de hoje. O bom de tudo isto é que o tempo não pára, e daqui a mais cinco anos talvez esteja a escrever mais uma página como esta…
(imagem tirada da net)
Por melhor que saiba viver momentos de grande intensidade, sem ter de pensar no amanhã, se as relações vão ou não durar, por mais que tentemos viver desligados com a desculpa esfarrapada de sermos livres, chega um momento da nossa vida em que é preciso parar. Tudo bem que é lindo viver romances de filme, ter memórias magníficas e histórias para contar aos netos (depois dos dezoito, claro), mas não será assim tão prazeroso contar sobre as noites passadas em claro a chorar numa solidão intermitente. Chega um momento que pensar em estabilidade começa a fazer muito mais sentido. Chega de incertezas virais que se propagam e nos corroem por dentro, chega de tentar viver como se realmente conseguíssemos ser superiores a elas.
A sede agora é outra, é de muito mais do que de alguns momentos de êxtase. Não preciso mais de uma vida feita de grandes picos de emoções, tanto de júbilo como de angústia. Agora preciso de paz. De uma paz interior que não se descobre, constrói-se. Uma felicidade que não se procura, cria-se. Quero estabilidade emocional. Quero construir uma vida plena. Uma vida com altos e baixos como qualquer pessoa, mas num equilíbrio minimamente saudável. Quem ama demais também sofre demais e, mais cedo do que julga, sentir-se-á um(a) velho(a) de oitenta anos com uma aparência de trinta.
Não é triste viver-se numa felicidade mediana. Não há que ter pena de quem vive assim. Quem vive uma vida inteira de uma felicidade amena, vive muitos mais anos feliz do que quem ama demais e quebra no meio do caminho. Amar cura, mas como qualquer remédio tem de ser na medida certa. A felicidade vem quando o remédio faz efeito, quando injectamos leves doses de amor, verdadeiro amor, que nem sentimos falta de mais. Uma felicidade amena que preenche, não tão intensa, mas nunca menor. Um estado de alma que se sustenta e sabe tão bem…
(imagem tirada da net)
A pedido de muitas famílias... quer dizer, foi só uma mas não faz mal, aqui deixo também a música da minha vida. Não vou explicar porquê, isso pode ficar para mais tarde. Num post quem sabe.... talvez um dia conte uma linda história. Por agora, espero apenas que a saibam apreciar como eu. Um som mágico, que me leva sempre para onde eu sou mais feliz... para bem perto de mim! Enjoy!!!
Se há filme que pode mostrar a minha essência, esse filme é este! "Before Sunrise".
Por alguma razão é o meu eleito como o filme da minha vida.
Ao seu lado podia pôr também um livro, "Alma de pássaro" de Margarida Rebelo Pinto.
Tudo histórias intensas, em que a liberdade é a chave dos momentos felizes. Em que a saudade e melancolia da despedida são compensadas pelos momentos de plenitude, intensidade e insanidade por vezes. Uma insanidade deliciosa, uma loucura feliz!
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